domingo, 22 de abril de 2012

Geografia

A geografia está em todo lugar.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Natureza

"O que chamamos de mundo natural não é uma entidade passiva (...)." HARVEY, D. O enigma do capital e as crises do capitalismo. - São Paulo, SP: Boitempo Editorial, 2011 (p.68).
[Pense nisso.]

quinta-feira, 14 de julho de 2011

transnacionais

Estado-nação e empresas globais: territorialidade e transterritorialidade no capitalismo do início do século XXI


Orlando Albani de CARVALHO [1]

O Estado possui na atualidade, assim como antes, um papel central. Mas falar na importância do Estado, de certa forma, contradiz Sousa Santos (2001), para quem o Mercado (como poder e regulação, portanto a maiúscula) superou o Estado no último século. Porém, como salienta Mészáros (2003), 

o sistema do capital não sobreviveria uma única semana sem o forte apoio que recebe do Estado” (p.29) e, apesar do avanço do neoliberalismo – promotor do Estado mínimo e do chamado “Mercado Livre” –  na segunda metade do século XX, “o Estado nacional continuou sendo o arbitro último da tomada de decisão socioeconômica e política abrangente (p.33).

Claramente o problema não está no Estado em si ou na da “globalização econômica”, mas nas políticas que os Estados-Governos realizam.

A questão, desta maneira, não é o poder do Mercado superando o poder do Estado (ou a dialógica entre Estado e mercado), mas o quanto nos últimos 30 anos, o Estado passou a ser cada vez mais um servidor do Mercado. É isso, afinal, o neoliberalismo, que disfarça-se em uma “natural” globalização econômica: um situação onde o Estado, mais que ser “mínimo”, deve dar ao Mercado todas as condições para a realização da lógica capitalista, ou seja, acumular capital para acumular mais capital.  Este Mercado, se concordamos com  Immanuel Wallerstein (2002, 2001), não é e não pode se livre. Em “O fim do mundo como o concebemos”, Wallerstein (2002), ao analisar as relações entre Estado e capitalistas, considera os serviços que o capitalista necessita do Estado.

Quais são os serviços que o capitalista necessita do Estado? O primeiro e maior serviço que exigem é a proteção contra o mercado livre. O mercado livre é inimigo mortal da acumulação do capital. [...] O mercado real nada tem de livre. (p.97)

O problema do “livre mercado” é que em uma condição – hipotética – realmente livre, a concorrência seria enorme ou, nos termos, de Wallerstein, as “entradas” de competidores seriam muito grandes, o que tenderia a minar os monopólios. Os monopólios são o “jardim do éden” dos capitalistas. Evidentemente os capitalistas-empresários estão sempre competindo entre si no mercado. Mas a questão da lucratividade não exige a perpetuação de monopólios: estes podem durar apenas alguns anos ou décadas para produzirem uma acumulação satisfatória. 

De qualquer forma não se deve levar aqui o termo “monopólio” ao pé-da-letra. No sistema capitalista mundial, os monopólios são exercidos por conjuntos de empresas (oligopólios) que admitem a concorrência apenas entre si – é o caso do automóveis e do petróleo – onde qualquer “nova entrada” de um potencial concorrente, caso não se proponha à “jogar o jogo” em termos de eficiência ou nível de preços, é imediatamente submetida às pressões do Estado, aliás, dos Estados, uma vez que o controle sob quem pode ou não estar no Mercado é outra função destes, o que é feito por meio de legislações, subsídios e formação de blocos econômicos que alteram o caráter da competição em favor de determinadas empresas ou setores comerciais.

Apesar da transnacionalidade das empresas ou de sua desterritorialidade ou ainda, no que tange à composição acionária, o próprio capital de uma empresa ser ‘multinacional’, toda empresa tem uma base nacional. A Ford ou a General Motors, podem ter participação de capitais alemães ou japoneses, mas são estadunidenses e  esperam dos Estados Unidos o devido respaldo em questões comerciais.  Investidores, quando compram ações no mercado financeiro, também consideram isso. Isso significa dizer que as empresas, apesar da “globalização”, não deixaram de ter vínculos nacionais, ainda que atuem transnacionalmente.  De acordo com Mészáros (2002, p.229)

Os países capitalistas dominantes sempre defenderam (e continuam a defender) seus interesses econômicos votais como combativas entidades nacionais, apesar de toda a retórica em contrário. Suas companhias mais poderosas estabelecem-se e continuam a funcionar pelo mundo afora; são “multinacionais” apenas no nome. Na verdade, são corporações transnacionais que não se sustentariam por si mesmas.
 
Desta forma, para  Magdoff (1978, p.183 apud Mészáros, 2002, p.229)

É importante ter em mente que praticamente todas as multinacionais são de fato organizações nacionais que funcionam em escala global. Não estamos negando que o capitalismo seja, e sempre foi, desde o inicio, um sistema mundial, nem que tal sistema tenha se tornado mais integrado por ação das multinacionais. Contudo, assim como é essencial compreender e analisar o capitalismo como sistema mundial, é igualmente necessário admitir que cada empresa capitalista se relaciona ao sistema mundial por intermédio do Estado-nação e, em última análise, dele depende.” [o grifo é nosso]

Os Estados são fundamentais para “abrir” mercados – seja por meios políticos, econômicos[2] ou militares – e estabelecer as regras da concorrência (as vezes mesmo de um Estado sobre outro), facilitando ou dificultando as “entradas” de novos concorrentes no mercado. Dito de outro modo: também cabe aos Estados transnacionalizar o Mercado, de forma, é claro, favorável a si – como Estado – e as empresas que nele tem sede.  Neste sentido também deve-se levar em conta as relações de poder que se estabelecem (ou estabeleceram) entre os Estados e que o sistema capitalista moderno é um sistema inter-estatal, que é um campo de relações de poder.[3] Ao final observa-se, neste mecanismo, um aspecto contraditório do sistema, pois, em certas oportunidades, Estados e Mercado, acabam entrando em conflito, apesar de dependentes um do outro.  Nos termos de Mészáros,

uma das contradições (...) mais importantes do sistema se refere à relação entre a tendência globalizante do capital transnacional no domínio econômico e a dominação continuada dos Estados nacionais como estrutura abrangente de comando da ordem estabelecida.” (2003, p.33)

Assim, apesar dos discursos sobre a globalização econômica, onde os Estados devem deixar o caminho livre para a regulação natural do Mercado, devemos considerar que este não é o ultimo degrau da história.  Ellen M. Wood também vê na época atual um paradoxo que envolve a relação entre o Estado-Nação e o Capitalismo. Para esta autora

“o capital foi capaz de estender seu alcance econômico para muito além das fronteiras de qualquer nação-Estado, mas o capitalismo ainda está longe de prescindir da nação-Estado.” (Wood, 2003, p.8)

            Wood (2003) ainda pondera que o capital necessita do Estado como mantenedor da ordem e das garantias das condições de acumulação (p.8), assim, para esta autora, é possível considerar que


“hoje estejamos assistindo aos efeitos de uma contradição crescente entre o alcance global das forças econômicas e as instituições de administração e repressão locais e territoriais de que o capital ainda necessita.” (Wood, 2003, p.8)[o grifo é nosso]

            O capitalismo transterritorial ainda necessita de instituições territoriais como o Estado. É próprio do capitalismo ser global ou transterritorial ou mesmo, como dizem alguns em referencia às empresas transnacionais, ser desterritorializado, isto é, sem apego à territórios, não ser dotado da fixidez dos Estados-Governos, contudo, ainda assim, ele requer ‘marcos regulatórios’ territoriais, pois ele necessita, precisamente, de espaços econômico-políticos diferentes, ou seja, de territórios diferenciados política, econômica e socialmente, para atuar.

Não nos parece que interesse ao capitalismo, e às empresas globais, que o planeta venha a constituir um território único, regido por um mesmo corpo regulatório e, sem dúvida (coisa de menor interesse ainda), socialmente igualitário. Para o Capital, o planeta deve ser exatamente territorializado, deixando para as empresas globais a faculdade da mobilidade transnacional. Assim a organização sócio-política (a estatalidade) deve ser territorial (planetariamente formada por diversos e diferentes territórios[4]) e as empresas desterritorializadas.

Talvez mais acertado seria denominar a forma de atuação das corporações globais não de desterritorializada, mas sim de transterritorial ou mesmo multiterritorial, pela capacidade que estas tem de transitar por diversos territórios nacionais e intra-nacionais (assim tais empresas não seriam apenas transnacionais, pois elas atuam não apenas superando as fronteiras dos Estados-nações, mas também fronteiras de territórios internos a estes Estados).

 Referências Bibliográficas


MAGDOFF, Harry. Imperialism: From the Colonial Age to the Present. – Nova York: Monthly Review Press, 1978.
MÉSZÁROS, István. O século XXI: socialismo ou barbárie? – São Paulo: Boitempo, 2003.
MÉSZÁROS, István. Para além do capital. – São Paulo: Boitempo Editorial; Editora da UNICAMP, 2002.
WOOD, Ellen Meiksins. Democracia contra capitalismo: a renovação do materialismo histórico. – São Paulo: Boitempo Editorial, 2003.
SOUSA SANTOS, Boaventura de. Para um novo senso comum: a ciência, o direito e a política na transição paradigmática (v.1: A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência). – 3. ed. – São Paulo: Cortez, 2001.
WALLERSTEIN, Immanuel. O fim do mundo como o concebemos: ciência social para o século XXI. Rio de Janeiro: Revan, 2002.
WALLERSTEIN, Immanuel. Capitalismo histórico e civilização capitalista. – Rio de Janeiro: Contraponto, 2001.




[1] Licenciado em Geografia/UFRGS. Mestre em Geografia (Análise Ambiental e Territorial) pelo Programa de Pós-graduação em Geografia da UFRGS. – e-mail: orlando_albani@yahoo.com.br.
[2] Como os embargos econômicos ou a taxação de produtos vindos de um determinado país para, reduzindo o mercado deste, forçá-lo a abrir-se à produtos ou empresas do primeiro.
[3]O poder se mede por resultados; poder é fazer a coisa a seu modo.” (Wallerstein, 2002, p. 95)
[4] Os Estados são e devem ser, na lógica do Capitalismo, diferentes, ou seja, configurar-se como territórios, onde aspectos básicos para o Capital se diferenciem, como taxas de juros, valor da mão de obra ou preço das matérias .

hidrelétricas

Construir hidrelétricas?

 Orlando Albani

Para o pesquisador italiano Umberto Galimberti um dos problemas da atualidade (ou da modernidade) é o dissídio entre a técnica e a ética, entre o que se pode fazer (objeto da técnica) e o que se deve fazer (objeto da ética). A razão - técnica - só tem competência, conforme Galimberti, sobre o que se pode fazer; o problema está em "ver como se consegue impedir de fazer aquilo que é possível através da técnica", uma vez que, de acordo com o mesmo autor, "as técnicas exigem o seu uso". Galimberti é autor de Psiche e techne: o homem na idade da técnica (São Paulo: Paulus, 2006). Nesta obra Galimberti faz uma longa análise filosófica da técnica. O tema é importante, o que também foi salientado pelo geógrafo Milton Santos em seu livro "A natureza do espaço. Técnica e tempo, razão e emoção (São Paulo: Hucitec, 1997, v. cap.1): "O enfoque das técnicas pode tornar-se fundamental quando se trata de enfrentar essa questão escorregadia das relações entre o tempo e o espaço em geografia." Assim, sob vários aspectos, é fundamental que se pense a técnica. Na vida quotidiana atual existe certa banalização da técnica e das tecnologias de tão introduzidas que estão em nosso ambiente. Usamos as técnicas (e tecnologias) sem nenhuma reflexão a seu respeito (cf. Kosik, K. Dialética do concreto. São Paulo: Paz e Terra, 1995). Quando acionamos um interruptor de luz obviamente não pensamos na origem da eletricidade que estamos utilizando. Mas deveríamos. No caso do Brasil, cerca de 90% da eletricidade têm origem em hidrelétricas, obras que causam, como se sabe, grandes danos socioambientais, desde o desmatamento de grandes áreas de vegetação (a construção de apenas 3 usinas hidrelétricas na região amazônica, Santo Antônio, Jirau e Belo Monte, com o objetivo de produzir energia para a região sul-sudeste, em especial São Paulo, deverão causar a inundação de cerca de 93 mil hectares de floresta amazônica) até os deslocamentos compulsórios das populações ribeirinhas. Apesar da discussão em torno da implantação de barragens e grandes hidrelétricas ter aumentado bastante, ainda não é suficiente. Apesar de possível, seria realmente adequado construir barragens e hidrelétricas na Amazônia? Nossa civilização, que preza tanto a razão, terá pesado todas as possibilidades? Não seriam possíveis outras técnicas de geração de energia? Não existem alternativas para uma civilização capaz de levar um homem à Lua e que almeja em breve levar um até Marte? É realmente indispensável construir hidrelétricas na Amazônia? Ou mais uma vez as técnicas - e o poder do capital e do lucro - exigiram seu uso e ponto final?

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Ser e não ser

Publico aqui um pequeno texto que julgo de grande importância. Porém devo agradecer o seu envio ao amigo Daka, colega, geógrafo e professor, que, como é próprio dos professores e amigos, nos faz lembrar de coisas importantes nas horas certas. O texto foi publicado na revista Caros Amigos e é de autoria de Emir Sader, expoente da intelectualidade brasileira:

O que é ser politizado
Emir Sader  (Revista Caros Amigos de abril de 2007)
“Ser politizado é entender como funcionam as relações de poder em cada sociedade e no mundo em geral. É compreender que, por trás das relações de troca no mercado existem relações de exploração. Que, por trás das relações de voto, existem relações de dominação. Que, por trás das relações de informação, há um processo de alienação.
 Ser politizado, no mundo de hoje, significa compreendê-lo no marco das relações capitalistas de acumulação e de exploração. Representa entender o mundo no marco da hegemonia imperial estadunidense, baseada na força militar e na propaganda do modo de vida estadunidense.
Ser politizado é compreender que tudo o que existe foi produzido historicamente, pelas relações entre os homens e o meio em que vivem. Ou melhor, entre os homens, intermediados pelo meio em que vivem. E que, portanto, tudo o que foi construído pelos homens pode ser desconstruído e reconstruído. Que tudo é histórico. Que a própria separação entre sujeito e objeto – que nos aparece como “dada” – é produzida e reproduzida cotidianamente mediante relações econômico-sociais alienadas.
Ser politizado é saber subordinar as contradições menores às estratégicas, saber que as contradições com o capitalismo são sempre também contra o imperialismo, pela fase histórica atual do capitalismo.

E o que é ser despolitizado
Já ser despolitizado é achar que as coisas são como são porque são como são, sempre foram assim e sempre serão. É considerar que as pessoas sempre buscam tirar vantagens e que não têm grandeza para lutar desinteressadamente por um mundo melhor. Que o que diferencia as pessoas é a ambição de melhorar na vida, que a grande maioria não tem jeito mesmo.
Entre o ser politizado e o despolitizado está a alienação, a falta de consciência da relação entre nós e o mundo. Alienar é entregar o que é nosso para outro – como diz a definição jurídica em relação a bens. Ser alienado é não perceber a presença do sujeito no objeto e vice-versa, sua vinculação indissolúvel.
A luta pela emancipação humana é uma luta contra toda forma de exploração, de dominação, de discriminação, mas, antes de tudo e sobretudo, uma luta contra a alienação – condição de todas as outras lutas”.

domingo, 15 de maio de 2011

Revolução Industrial

Compartilho esse pequeno (mas interessante) texto [na verdade apenas parte dele] que pode ser acessado [na íntegra] no site indicado ao final:

A Quarta Revolução Industrial
Por PAULO ROBERTO DE ALMEIDA
Doutor em Ciências Sociais, autor de vários trabalhos sobre relações internacionais e política externa do Brasil
O mundo encontra-se no limiar de uma nova revolução industrial, ou melhor, ele já está, de fato, mergulhado nela: trata-se, obviamente, da transformação radical dos processos e produtos de nossa atual civilização industrial por meio da aplicação do infinitamente pequeno às mais diferentes utilidades da vida diária. Essa revolução é bem mais importante, e mais desafiadora, do que aquelas que presidiram ao domínio do homem sobre as forças da natureza nas três revoluções anteriores ou etapas precedentes de progressos materiais e tecnológicos desta nossa civilização industrial.
Com efeito, a primeira revolução industrial, iniciada na Grã-Bretanha há pouco mais de dois séculos, assistiu à transformação da energia em força mecânica, sob a forma de caldeiras e máquinas a vapor, o que redundou, entre outros avanços materiais, no impulso dado às indústrias manufatureiras (com destaque para o setor têxtil) e aos transportes aquaviários e ferroviários.
Já na segunda revolução industrial, um século após, o destaque ficou com a eletricidade e a química, resultando em novos tipos de motores (elétricos e à explosão), em novos materiais e processos inéditos de fabricação, paralelamente ao surgimento das grandes empresas (algumas vezes organizadas em cartéis), do telégrafo sem fio e, logo mais adiante, do rádio, difundindo instantaneamente a informação pelos ares.
A terceira revolução industrial, nossa contemporânea por sua vez, mobilizou circuitos eletrônicos e, logo em seguida, os circuitos integrados, os famosos microchips, que transformaram irremediavelmente as formas de comunicação e de informação, com a explosão da internet e do comércio eletrônico e voltada crescentemente para o lazer.
A quarta revolução industrial, na qual estamos ingressando neste momento histórico, mobiliza, fundamentalmente, as ciências da vida, sob a forma da biotecnologia, bem como uma gama multidisciplinar de ciências exatas e cognitivas que responde pelo nome de nanociência. Esta, por sua vez, se confunde praticamente com suas materializações práticas, sob a forma da nanotecnologia. Desde várias décadas, senão há mais de um século, os cientistas tentam domar o infinitamente pequeno, plenamente conscientes de que é ao nível das moléculas, das partículas e dos átomos que se joga parte importante do jogo da vida e da própria composição e funcionamento do infinitamente grande, isto é, do universo. Essa busca resultou em enormes avanços científicos e materiais para a humanidade, assim como no deslanchar de forças que chegaram a ameaçar a própria sobrevivência da civilização sobre o planeta, tanto sob a forma do holocausto nuclear como na perspectiva de uma guerra biológica ou química.
Agora, quando os novos equilíbrios estratégicos e a diminuição das tensões permitida pela relativa convergência de valores e de sistemas econômico-sociais atribuem um sentido positivo às pesquisas científicas nas áreas da energia atômica, dos novos materiais, dos elementos químicos e da biologia, as possibilidades abertas pela inovação tecnológica e pela cooperação internacional nessas áreas de fronteira do conhecimento humano abrem um potencial imenso de realizações, para a humanidade em geral, e também para o Brasil.
(Nota: os grifos são do autor deste blog)
Fonte (acessível em): http://www.espacoacademico.com.br/052/52almeida.htm [15/05/2011]


terça-feira, 10 de maio de 2011

Geografia econômica


As Revoluções Industriais
por Orlando Albani

Uma série de inovações tecnológicas passam a ocorrer no século XVIII, mas 2 merecem ser destacadas: as máquinas modernas que substituíram o trabalho humano, mais rápidas e precisas e a utilização do vapor como fonte de energia para o acionamento das máquinas. Com a invenção da máquina a vapor o carvão se tornaria um mineral estratégico. Estas e outras inovações resultaram na grande transformação que foi a passagem de uma economia agrária e artesanal para outra dominada pela indústria fabril e o maquinismo, enfim, a Revolução Industrial que teve inicio na Inglaterra ao final do século XVIII (1760). Assim, desde 1760 o processo de fabricação de mercadorias já passou por 3 fases que denominamos de Primeira, Segunda e Terceira Revoluções Industriais.

PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1760-1870)
A Primeira Revolução Industrial (RI) tem relação direta com o capitalismo industrial (1760-1870). É nela que surgem as fábricas com máquinas movidas a vapor (o que exigia grandes quantidades de carvão mineral, minério no qual a Inglaterra [país em que se origina a RI e o capitalismo industrial] era rica) e o trabalho assalariado. Vale observar que a lenha ainda seria muito importante, mas que gradualmente perderia destaque tanto pela maior eficiência do carvão como fonte de energia calorífica como pela escassez progressiva da madeira nas ilhas britânicas.  
Deste fato se pode salientar o enorme impacto ambiental que a Revolução causou tanto para a vegetação das ilhas como para a atmosfera. Também vale lembrar que o Reino Unido possui uma área relativamente pequena, apenas cerca de 245.000 km² (Não se considera ai os 70.000 km² da Irlanda que fez parte do Reino Unido entre 1800 e 1949), portanto menor que o território atual do Rio Grande do Sul (cerca de 282.000 km²).
As fábricas agrupavam centenas de trabalhadores ocupados na produção em série de mercadorias. Institui-se uma divisão de classes: os capitalistas (donos de todos os meios de produção e de todo o lucro [ou todo o prejuízo]) e os trabalhadores assalariados (proletários). Surge uma nova sociedade: a sociedade industrial. Da Inglaterra estas transformações se estenderam, de forma desigual, para outros países da Europa continental.
Na Inglaterra a indústria do algodão foi fundamental. 90% da produção era exportada para as colônias inglesas. A maior parte do algodão das fabricas, contudo, saía do sul dos EUA que ainda utilizavam trabalho escravo. O mercado torna-se mundial e passa a integrar e relacionar todos os continentes. Novamente a Inglaterra tem a vantagem de ser uma potência naval com uma importante frota tanto comercial como bélica.
 Com a RI ocorre uma intensa migração para as cidades industriais e intensifica-se o processo de urbanização e o crescimento populacional. A Inglaterra, a “fábrica do mundo”, muito se beneficiou das relações coloniais tanto como mercados para seus produtos industrializados como para a obtenção de matérias-primas, sem esquecer a disponibilidade de carvão mineral em seu próprio solo.
Assim, a Primeira Revolução Industrial será caracterizada pelos seguintes aspectos principais:   
(a)  adoção rápida de inovações técnicas (fiandeira e tear mecânico);
(b)  aumento da produção e barateamento do preço das mercadorias;
(c)   separação entre capital e trabalho;
(d)  modo de produção capitalista;
(e)  predominância da energia fóssil (carvão mineral);
(f)    liberalismo como doutrina econômica;
(g)  concentração da produção em centros urbanos;
(h)  surgimento de um movimento sindicalista.

Obs.: As inovações técnicas também atingiriam o campo e aumentariam a produtividade agrícola, reduzindo a importância dos trabalhadores do campo que, sem trabalho, migravam para as cidades industriais.


SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1870-1970)
A primeira revolução industrial resultou em um intenso crescimento da produção mundial de mercadorias e matérias-primas. Em meados do século XIX, quando tem inicio a Segunda Revolução Industrial, a Inglaterra sofre com uma crise de superprodução. Depois, no final do século XIX, uma nova crise atinge diversos países industrializados (incluindo os EUA e a Alemanha) em função de uma queda continua e gradativa dos preços entre 1873 e 1896 (conhecida como A Grande Depressão). 
Assim, no final do século XIX, diante das crises, ocorreu um esforço para a criação de novas tecnologias que aumentassem os lucros, o que acabou ocasionando a Segunda Revolução Industrial a partir de 1870. Ocorreram avanços importantes especialmente no setor de transportes com navios e locomotivas a vapor tornando o transporte de mercadorias mais rápido. Outros avanços ocorreram, mas desta feita os países que lideraram esse processo foram a Alemanha e os Estados Unidos (EUA).
Ciência e capitalismo se unem no desenvolvimento de novas técnicas e tecnologias que aumentassem a produção e auxiliassem o processo de acumulação de capital. [1] Considera-se ter sido a Alemanha que deu inicio à incorporação da ciência aos empreendimentos capitalistas. Destacam-se os avanços em quatro campos fundamentais: eletricidade, aço e concreto armado, petróleo e química e motor a explosão. A essa última invenção associa-se o desenvolvimento da indústria automobilística, que seria fundamental nas primeiras décadas do século XX (e na qual teria origem o fordismo).
Deste modo, a Segunda Revolução Industrial pode ser caracterizada pelos seguintes aspectos principais:
(a)  Ciência e Capital (capitalistas) unem-se em prol do desenvolvimento tecnológico (voltado para a obtenção de maiores lucros);
(b)  Produção concentrada em empresas cada vez maiores com a formação de trustes, cartéis  e holdings;
(c)   Fusão do capital industrial e do capital financeiro formando sociedades, originando o chamado Capitalismo Financeiro;
(d)  Papel crescente dos Bancos (agentes financiadores da produção) e das Bolsas de Valores (os fluxos [“exportações”] internacionais de capital passam a ter grande importância, diferentemente da Primeira Revolução Industrial onde a exportação de mercadorias era o mais importante)
(e)  As grandes empresas monopolistas dos países industrializados (daí essa fase do capitalismo também ser denominada de Capitalismo Financeiro e Monopolista[2]), associadas a Estados (que lhes davam garantias econômicas e, por vezes, militares), partem, no final do século XIX, para uma divisão dos mercados e, seqüencialmente, para uma nova partilha colonial, o IMPERIALISMO, que se materializou territorialmente na Congresso de Berlim (1885) e na partilha da África, empreendimento em que Inglaterra e França levaram clara vantagem sobre a Alemanha, sendo esse um dos fatores que levaram à Primeira Guerra Mundial.
(f)    Liberalismo econômico até 1933 quando desenvolve-se o Keynesianismo (que se torna a doutrina econômica da maioria dos países desenvolvidos até a década de 1970).
(g)  A partir de 1945 (com o final da segunda Guerra Mundial) ocorre uma transnacionalização da empresas (especialmente dos EUA) com a implantação de filiais de empresas norte-americanas (estadunidenses) em países da Europa e do Terceiro Mundo.
(h)  No inicio do século XX, a sociedade do automóvel e de consumo.


TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (1970 ATÉ OS DIAS ATUAIS) ou REVOLUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA
A Terceira Revolução Industrial (RI) está associada à globalização econômica e financeira e ocorreu marcadamente a partir da segunda metade do século XX mas especialmente a partir da década de 1970. No período entre 1945 e 1970, no seio da guerra fria (EUA x URSS), diversas tecnologias – muitas delas tendo sido criadas no âmbito da corrida armamentista e espacial entre EUA e URSS – ganharam uso civil. São muitas as inovações tecnológicas que resultaram na Terceira Revolução Industrial e na chamada globalização: inovações nos setores farmacêutico e químico; novos fertilizantes agrícolas; aviões a jato; satélites; computadores; internet; telefonia celular, entre outras. Todas elas tiveram ampla difusão por todo o planeta.
O keynesianismo (Estado de Bem-estar Social) dá lugar ao Neoliberalismo, doutrina econômica hegemônica na atualidade na maioria dos países do mundo. A partir do Japão surge um novo tipo de organização do trabalho e da produção: o toyotismo (just-in-time, “primeiro vender para depois fabricar”, reduzindo custos e diminuindo estoques), que substituiria o fordismo da Segunda Revolução Industrial.
A expansão das multinacionais e a internacionalização da produção (fragmentação da produção), ocorrida a partir de 1945, ganha novo estímulo com os grandes avanços nas áreas de transportes, comunicação e transmissão de informações, em especial com o advento da internet. A partir dos anos 1970 e 1980 a localização das unidades produtivas (fábricas e montadoras) perde importância pelas facilidades (e barateamento) dos transportes e da comunicação. Surge o mercado efetivamente mundial, globalizado, que funciona 24 horas por dia. Há grande desenvolvimento nas áreas de robótica, biotecnologia e informática. Nas grandes indústrias high-tec a robotização é a norma. Ocorre uma nova onda de fusões e incorporações de empresas. As empresas tornam-se globais, de atuação planetária. É a globalização. Deve-se notar que se por um lado o desenvolvimento de novas tecnologias torna o trabalho mais produtivo e aumenta a produtividade, por outro pode causar desigualdades, aumento da pobreza e desemprego.
Alguns países subdesenvolvidos (especialmente na América Latina e Ásia) se industrializam e assim se constitui uma nova DIT (divisão internacional do trabalho). Muitos países, no entanto, tem uma industrialização dependente tecnologicamente, o que aumenta as desigualdades internas e externas. Nesta nova fase do processo de industrialização, e do capitalismo, a localização espacial das fábricas parece por vezes irrelevante e assim sua localização ocorre em função dos menores custos de produção. É assim que, na atualidade, mesmo empresas brasileiras estão se transferindo para a Ásia (China ou Índia)  e causando desemprego no Brasil.
Deste modo, a Terceira Revolução Industrial pode ser caracterizada pelos seguintes aspectos principais:
(a)  Grande desenvolvimento tecnológico (robótica, informática);
(b)  Barateamento dos transportes e da comunicação;
(c)   Transnacionalização e fragmentação (internacionalização) da produção de mercadorias;
(d)  Mercado global; Nova DIT;
(e)  Neoliberalismo;
(f)    Toyotismo;
(g)  Capitalismo financeiro globalizado; crescimento exponencial da especulação financeira (mundialização financeira). A especulação financeira parece tornar-se mais importante que a atividade produtiva. Todas as grandes empresas destinam grande quantidade de capital à especulação nas Bolsas de Valores de todo o mundo.

Por fim, não devemos deixar de ressaltar as crises que são relativas ao período entre 1970 e os dias atuais: as crises do petróleo (1973, 1979, 2007, 2011 (barril acima dos US$ 100,00) e a crise ecológica que se arrasta desde os anos 1980. Também convém lembrar-se da “questão” China (o 3° PIB mundial em 2010), cujo crescimento assombroso desde os anos 1990 vem, interessantemente, afetando/transformando o mercado mundial. Mas esse já é um assunto para outro momento.



[1] Lembrar que o capitalismo é “um sistema econômico e social baseado na propriedade privada dos meios de produção (terras, máquinas e outros equipamento indispensável para a fabricação de mercadorias) e na organização da produção visando o lucro e empregando trabalho assalariado.
[2] Apesar dos Estados serem liberais. As empresas capitalistas são monopolistas pois é a situação mais vantajosa possível, isto é, dominar completamente um mercado. Contudo seus Estados (os países em que tais empresas têm sede) devem ser liberais e promover o “livre-comércio”, isto é,  devem trabalhar (inclusive por meio da guerra se necessário) para que empresas de outros países não obtenha monopólios.